NOTAS DE QUARENTENA II

Há coisa de uma semana atrás, falei com a minha amiga Adriana - da página @namerendeira - e partilhei a minha preocupação sobre o impacto que este "furacão" terá no mundo da restauração, em particular nos locais mais tradicionais. 

Digo até em jeito de brincadeira, que não é só em nós, humanos, que a idade avançada constitui um factor de risco. Estabelecimentos antigos certamente não se adaptarão tão facilmente a uma mudança para uma actividade mais digital, e até a própria cozinha tradicional portuguesa que reproduzem, é mais semelhante à que confeccionamos em casa. Pelo que, mesmo com esta mudança a existir, podem ficar a perder para novos lugares que vão florescendo e multiplicando. Outro cenário que torna plausível o fecho de bastiões da nossa cozinha é a idade avançada de alguns dos seus proprietários, que não estão dispostos a reinventar-se nem ponderam passar o testemunho, tornando-se mais sedutora a hipótese de precipitar o fecho permanente do restaurante.

Posto isto, a minha alma está com estes símbolos da cultura nacional, e farei a minha parte para que sobrevivam e se mantenham saudáveis. Apelo também ao seu instinto de sobrevivência, pois sem estes ninhos que tornam a nossa casa ou o nosso berço tão agradável, o perfume da novidade que persigo sofregamente não seria o mesmo. Portanto, conto ir à Adega da Tia Matilde, ao Dom Feijão, ao Zé dos Cornos, à Adega das Gravatas, ao Solar dos Presuntos, aos pequenos estabelecimentos do nosso bairro que nunca desapontam, e por aí adiante, desejar força. Estou convosco. À escala global, não só em Lisboa ou Portugal. Porque é essencial que o carisma e a individualidade permaneça pelo mundo fora. E porque a comida, se falasse, seria a voz do povo.