A'PARANZA

 Há aqueles restaurantes dos quais ouvimos falar vezes sem conta e nos interessam genuinamente visitar, mas que por alguma razão ou por haver sempre um à frente na lista, deixamos o tempo passar sem visitar. Mas também temos os restaurantes que nos fazem o coração bater aceleradamente e logo que aparecem no radar, urge visitar. Foi o caso do A'paranza, uma tasca italiana que escapa completamente ao convencional italiano em Portugal, e arrisco-me a dizer, fora do país da bota. Neste espaço com uma selecção musical adulta e madura e mobiliário de fazer inveja a quem atenta aos pormenores, comem-se pratos tradicionais da região de Campania, da qual Nápoles faz parte  e de onde são provenientes os donos. Ou seja, a carne está excluída, sendo que o peixe e marisco portugueses têm carta branca para avançar. Sim, as receitas são do mais italiano do sul que há, mas o peixe provém das nossas lotas. É um lugar relaxado e frequentado por muitos jovens adultos, onde se come uma comfort food rara em Portugal.


O inusitado couvert mostra logo ao que vamos, com umas gostosas petingas que podem ser comidas à glutão, ou com pão. Porque petinga nunca é demais, pedimo-las envolvidas num espesso molho de tomate e anchova. Que surpresa! Sentimos toda a chincha e sabor do pequeno peixe.



Estava na hora dos polvinhos guisados, bem disfarçados na escuridão de um molho de tomatada e vinho. Aproveitando a cor do molho, podemos afiançar que os polvinhos ficaram na sombra da petinga que roubou todos os elogios e UAUs desta vida.


Já estávamos bem, mas é difícil manter a contenção num novo lugar que propaga uma energia tão positiva, por isso pedimos uma Fettuce al dente com gambas e amêndoa. Espectacular. Massa no ponto, daquele que se sente na boca e obriga os dentes a trabalhar. Tão boa a sensação, e a arriscar roubar o protagonismo às petingas. Bem servida, sobrou e valeu-me um belo almoço sem esforço no dia seguinte.


Fechámos com um Tiramisu generoso em Mascarpone, daqueles Tiramisu tão cremosos que me recordam que afinal gosto do mais famoso doce italiano, porque durante anos achei uma sobremesa banal por não ser devidamente confeccionada, sem qualquer cremosidade e frescura.
Nota para a fantástica hospitalidade dos donos, que adoraram receber o nosso amigo de quatro patas e garantiram que ele se mantinha hidratado.
Esta visita traduziu-se  numa surpresa boa, um lugar low key, onde abrandamos e somos imunes a esta correria cosmopolita com comida invulgar por estas bandas.




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