O eleito foi o Entra, por estar há muito entre as minhas potenciais escolhas e por se situar perto, numa zona de Lisboa que me agrada particularmente... A decadente mas vivida Marvila. É uma tasca moderna, que não pára no tempo.
Quando reservei, senti uma tremenda disponibilidade do restaurante em bem receber, colocando-me à vontade para pedir o menu surpresa, mais comum ao jantar. Talvez para reproduzir um pouco o espírito da inflexibilidade antes criticada nos menus de passagem de ano, ou para explorar a vertente mais carismática do Entra, seguimos então o menu surpresa.
Com uma banda sonora que por momentos nos fez temer pela vida, recebemos o duo de entradas com um Falafel de grão sustentado num belíssimo molho de iogurte, e um crocante de chevre com legumes salteados.
O momento marítimo trouxe-nos um Lírio dos Açores grelhado, triunfalmente destacado sobre uma base de açorda de tomate. Envolvido por vegetais e com um molho cítrico que tornou esta delícia ainda mais interessante e divertida, foi o meu momento predilecto. Uma boa carne talvez seja mais comum de encontrar, mas pessoalmente, um bom prato de peixe consegue-me proporcionar uma satisfação superior e de leveza.
Para dar aquele trabalho extra e entreter o estômago por umas horas, chegou-nos um Cachaço de Porco Preto juntamente com batatinhas a murro e umas gulosas chips de mandioca. A carne é indiscutivelmente boa, como o Cachaço deve ser, mas com a(s) sobremesa(s) no horizonte, bastaria uma versão mais minimal do prato. Não chega sequer a ser problema, não dá para agradar a gregos e troianos e para alguns a minha sugestão pecaria por escassa, mas é o retrato da minha experiência.
Para entra(r) no novo ano com a barriguinha avantajada de felicidade, vestimos um pijama de doces. Eram eles o Sorbet de manga, o Crumble de maçã com leite creme de laranja e tomilho e uma mousse de chocolate com bolacha maria. O menos elogiado foi o sorbet, até porque lá fora estava um frio de rachar e o psicológico tem sempre força. O crumble de maçã tem o seu encanto, especialmente devido à original inclusão do leite creme que tanto adoro, dando textura cremosa e sabor suave. No entanto, globalmente sou homem para preferir a mousse.
Foi uma boa forma de sair (ou entrar?) de 2020, num restaurante que tem vindo a criar uma fama e base de clientes sólida e onde podemos ter a garantia de comer bem e ser surpreendidos sem ter de tomar decisões, por preços muito justos que se vão mantendo ao longo dos anos.
Avaliação (0-10)
Comida: 7
Espaço: 7
Atendimento: 9
Preço: 10
Etiqueta Covid: 8
Global: 8.2
Bom ano e melhores comezanas!
Sem comentários:
Enviar um comentário