Se há prato tradicionalmente luso que não comemos em casa, ele é o bitoque. E perante o iminente anúncio de mais um confinamento geral que se veio a confirmar um par de dias mais tarde, não quisemos perder a oportunidade de testemunhar aquele que é considerado por opiniões respeitadas no meio, como o melhor bitoque da cidade. É a Adega Solar Minhoto, ali para os lados de Alvalade, bem perto do mercado local e junto aos bombeiros. Se o bitoque pegar fogo, estaremos em segurança.
A minha mais recente leitura - O Homem que comia tudo, do Ricardo Dias Felner - tem-me oferecido recomendações mais viradas para a gastronomia nacional, e tenho aproveitado para seguir algumas delas. E a verdade é que para além de ter uma relação qualidade-preço benéfica, estamos a contribuir para que estes bastiões da gastronomia portuguesa se mantenham vivos. É o caso desta adega, onde o bitoque é rei e fomos os primeiros a entrar para jantar, mas ficámos felizes por verificar que ao sair a casa estava cheia, e até se alcançou a proeza de ter um par de pessoas à espera de mesa no exterior, não sucumbindo ao frio polar que caracterizou este começo de ano.
Se há coisa onde os restaurantes portugueses não têm concorrente à altura, é nos aperitivos. Queijinho de mistura às fatias e croquetes a jorrar carne. Tive a sagacidade para pedir uma cerveja preta, que muitas vezes me esqueço de ser a que melhor tolero e gosto.
O que estou prestes a dizer é um lugar comum, mas creio que se aplica aqui na perfeição: o segredo é mesmo não ter truques.
A batata é frita na hora, gordinha e estaladiça por fora, pronta para misturar com o molho da carne. O investimento em não congelar faz toda a diferença, porque é nos pormenores que sentimos a qualidade. A carne é tenra e de qualidade, não pedimos nem bem nem mal passada, porque no meio está a virtude. Mas no molho também, já que a quantidade generosa de alho confere um sabor apurado. Alho nunca é demais, desde que não seja francês, portanto a não poupança deste ingrediente chave é de salutar.
Dado que estamos numa semana de despedidas, porque não despedir com uma sobremesa? Nas palavras do peculiar staff, foi dado um "calorzinho" ao arroz doce, que eu só o concebo de morno para cima. Estava quase tão bom quanto o nosso caseiro de Natal, com menos limão, mas estava bom. Quando quiser bitoque, já sei!
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