FOGO

Foi ainda em 2019 que abriu o restaurante que promete fazer as delícias dos lisboetas. E nós, fizemos esta visita obrigatória logo no primeiro mês do ano, para dar o mote. Corria o verão de 2018 quando fomos ao Loco e ficámos Loucos, ao ponto de até hoje não termos esquecido esse manjar dos Deuses. Portanto, quando soubemos que o chef Alexandre Silva tinha um novo projecto na calha, era certo e sabido que estaríamos na primeira fila para o testemunhar.

Neste novo restaurante, continuamos num registo díssilabo: eis o FOGO.

A fachada, revestida com rocha vulcânica dos Açores, deixa antecipar que no seu interior tudo é pensado até ao mais ínfimo pormenor, e que vários tipos de artes se manifestam em harmonia: decoração, bem receber, e comida.

Os candeeiros, alusivos ao tema que o restaurante impõe, são provenientes de Estremoz e ajudam a manter o termómetro bem alto. Temos também lenha para dar e vender, porque aqui o calor nunca pode faltar. Metáforas aparte, no FOGO não se passa frio, o que soube particularmente bem nesta arrepiante noite de Janeiro.

Ainda com a memória do Loco bem viva nas nossas cabecinhas, pedimos o pão em forno de lenha, feito no coração do fogo. Para amaciar o já por si fantástico pão, temos manteiga com flor de sal, paté de fígado de pato, azeite e pickles de vegetais.

Seguiu-se o tártaro de vaca com ovo fumado, cujos diversos componentes, bem picadinhos, se traduzem num incrível sabor. Ainda o bolo alimentar estava a ser formado, já eu estava com saudades.

Na piscina dos grandes, apareceu uma desenvergonhada raia grelhada, banhada num pornográfico molho de manteiga e alho. Mas não se deixem enganar, porque se há coisa que esta raia não é, é vulgar. Surgiu coberta com folhas de espinafre, com um toque de classe.

Porque não há peixe sem carne, alguém capturou uma Presa que só parou na nossa mesa. Não sei discernir se terá sido o melhor prato, mas o mais surpreendente foi certamente. Um aftertaste tostado e crocante após sentir a carne suculenta, deixou-nos particularmente boquiabertos.

Estava na hora de gastar os créditos semanais de sobremesa. Eu com o Creme Brulee e sorbet de tangerina, ela com Crumble de Maçã e gelado de leite fumado. Fiquei com o gelado dela, portanto fiquei a ganhar. Um atento elemento do staff apercebeu-se da injusta troca de um prato vazio pelo gelado de leite fumado, mas eu não fui de modas e garanti que nada sobrava.

Em suma, o FOGO não é um Loco, mas não o ambiciona ser, e pode bem ser um lugar para mais visitas. Não pedi o cocktail de cinzas para garantir que volto.