BARRA DE SUSHI DA PRAIA NO PARQUE

Chegámos à hora marcada, prontos para uma experiência japonesa no lindo espaço do Praia no Parque, que durante anos esteve esquecido e abandonado, a um pé de distância do mais ilustre parque lisboeta. Com toda a atenção do mestre Lucas Azevedo centrada em nós, e cumprindo todas os procedimentos de segurança, optámos por não nos cingir a uma ementa, aproveitando a inspiração do momento.


Seguindo a filosofia do bem receber japonês, foi-nos preparada uma toalha fria com um aroma muito refrescante a limão. No inverno a toalha é quente, pois claro.
Para beber, aceitei a proposta de vinho branco da casa, o transmontano Alto do Joa. É um vinho que facilmente se percebe ser especial, até para os menos sensíveis a sabores mais sofisticados. Tem o melhor da frescura e aroma de um bom branco, e uma acidez que rapidamente desvanece. Um óptimo vinho para abrir em casa numa ocasião singular.


Na antecâmara da degustação, foi-nos desvendado que esta versão de sushi tradicional não inclui salmão, e que outros pratos têm direito também a brilhar, sendo que o atum assume o papel de estrela maior.
Enquanto outros pratos iam sendo preparados neste malabarismo que requer muito multitasking à frente do cliente, é-nos apresentado o primeiro prato: Lulas com botargas. Incrivelmente suculento e completo em termos de sabor, ainda que não dê para perder a noção que estamos na presença de lula.


De seguida surge um prato muito composto, que Lucas nos incitou a experimentar sem desvendar de que tratava: atum envolvido em gelatina feita da medula do próprio atum, com umas ovas curadas de peixe galo. Texturas inesperadas, sabores inusitados.


Tempo agora do prato mais branco de todos. Um prato branco repleto de gelo, e finas fatias de um peixe galo marinado com sal durante uma semana. Tudo em branco, tudo em bom. Podia-se chamar supremacia branca?


Chegou então a hora de apresentar o prato que vinha sendo confeccionado no calor da grelha desde o começo da degustação. São duas versões distintas de enguia grelhada: unagi kabayaki - o peixe é dividido pelas costas (ou barriga), eviscerado e desossado, aberto, cortado em porções quadradas - e unagi, o nome dado à carne das enguias de água doce.


Um dos truques mais seguros na manga do chef é uma espécie de sortido de Toro, de distintas zonas do atum. Não há muitas palavras para descrever, chamo-lhe um figo. Uma nota para o curioso facto de algumas peças serem servidas em número ímpar, de modo a estimular o debate e a discussão entre os intervenientes, algo que veio realmente a acontecer.


Para encerrar este capítulo da refeição, o prato perfeito: bochecha e olho de atum, cogumelos shitake e rábano. Cada um dos elementos atingiu a perfeição, e o alternar de sabores revelou-se surpreendente.


Sucedeu-se um desfile de Nigiris. Toro, Carabineiro, Carapau, Lírio, Peixe Galo, para todos os gostos. O Nigiri é um dos elementos estrela da gastronomia nipónica, embora tantas vezes ostracizado fora da sua cultura. Este desfile de lindos exemplares mostra o trabalho que Lucas Azevedo tem vindo a desenvolver e promover: o respeito pelo produto. Trata-se sobretudo de encontrar formas de fazer o produto brilhar, isto da forma mais natural e criativa.
E o processo de maturação, tantas vezes ouvido no contexto da carne, toma um papel preponderante. Não se trata apenas de peixe fresco, antes pelo contrário, requer trabalho.
Para quem tem dúvidas, o Nigiri pode mesmo ser a melhor parte do Sushi. Estas imagens não dizem tudo, mas cumprem o seu papel. Podem encontrar estas iguarias e muitas mais na barra de sushi do Praia no Parque, em função da inspiração e da "pesca" do Lucas Azevedo.


O Petit Gatêau da carta era tentador, mas para não variar, já que estávamos em tão boas mãos e adorado todas as sugestões, seguimos o complemento natural para uma refeição leve, uma mousse de limão com neve (que é como quem diz, gelo desfeito). Para além de bonita, é uma delícia e não dá aquele sentimento de culpa, de tão refrescante que é, como uma acidez que rapidamente desvanece.


Não é uma experiência para todos os dias mas a garantia de excelência e perfeição estão lá, com a criatividade e respeito máximos pelo produto, fruto dos ensinamentos adquiridos em formação no Japão, e da curiosidade e investigação de quem sempre procura surpreender mais e melhor.
Podemos dizer, sem reservas, que se trata da melhor experiência da gastronomia japonesa em Lisboa, e que daqui para a frente comer sushi não será a mesma coisa.


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