Este foi o jantar que depois de marcado demorou mais tempo até acontecer. Em Março, "bom, COVID e cenas, vamos assumir que este jantar não vai acontecer, certo?". Certo. Nem em Março, nem em Abril, Maio ou Junho.
Julho é que é! Entre máscaras, álcool gel e algumas questões como "se eu pousar a minha mala neste sofá e alguém com covid espirrou aqui (...)", tivemos um lugar à janela no simpático Geographia.
Eu já o tinha visitado há cerca de um ano, e foi por isso que o escolhi: não queria correr o risco de fazer má figura e depois ainda ter de escrever sobre isso. E sobretudo sabia que teria um gran finale (já explico).
O conceito do Geographia é "comida que fala português". Mostra-nos o património e a diversidade gastronómica dos países com quem partilhamos idioma (ou que colonizámos à bruta) e acompanha a mistura no som ambiente, entre uma bossa e um fado.
Goa, Macau, Brasil, Portugal, senti-me capaz de escolher qualquer coisa do menu. Afinal, foi provavelmente Vasco da Gama o grande mestre da cozinha de fusão.
Começámos com uma entrada de "A sapateira que queria ser casquinha de siri", Portugal/Brasil, uma latinha com miolo de sapateira e caju, a acompanhar com as tostas mais finas do globo. Com um bocadinho de picante, foi um excelente início de refeição.
À nossa volta tínhamos menos turistas que o habitual, mais distância até à mesa seguinte, e um bom conjunto de mapas antigos nas paredes. A conversa passou pelo cliché do vírus, o futebol nacional, o Grupo Desportivo de Chaves, as viagens adiadas, os concertos a que não temos ido.
O prato principal demorou, sem motivo aparente (mas fomos compensados no final com um copo de vinho). Divergimos nos continentes. O Diogo foi até ao Brasil, com um Escondidinho de puré de mandioca com camarão e queijo catupiry caseiro.
Eu fui até Macau com um Pato do Rio das Pérolas com molho de ostras e arroz chau-chau. Quando o pato se desfaz, sabes que fizeste uma boa escolha. Não sei onde fica o Rio das Pérolas, mas queria deixar aqui o meu agradecimento pelo pato. Mergulhei o garfo no prato do Diogo. Fui surpreendida por ser super cremoso. O Diogo achou que faltava um bocadinho de sabor. No final, o balanço é positivo. Mas não fiquei com a sensação de que vou pedir um dos pratos para sempre. Quando voltar quero experimentar um novo.
E tudo isto, para chegar àquilo que preciso de facto de partilhar. Eu podia não ter escrito mais nada. Esta publicação podia ter sido "Olá, sou Paula, conheço o Diogo da Nova SBE, sou do Chaves e vão ao Geographia comer cheesecake".
O cheesecake do Geographia.
E agora vocês dizem "epa, isso é a sobremesa que todas as tias fazem, que cena básica, estou a perder o meu tempo a ler isto."
Calma. Não estão.
Cheesecake de queijo de cabra e goiabada.
É o melhor final. É a mistura de Portugal e Brasil que todos merecem ter. É um fado cantado pela Anitta, ou um funk brega cantado pelo Camané.
É saber que a sobremesa não é para dividir, porque vais comer uma inteira sozinho. É achares que te enganaram a vida toda com uma sopa de frutos vermelhos por cima de queijo creme, a que chamavam cheesecake. É sentires que tens todo direito de ir a um sítio e dizer "Olá, eu hoje só vou querer a sobremesa.". É sentires que sobremesa pode ser pequeno-almoço.
E portanto, vão lá ao Geographia. Tirem uma foto com o macaco que está pendurado na sala. Peçam o que vos apetecer, porque vai ser bom de certeza. Conheçam o espaço simpático e o staff que põe um calço na mesa para que não tenhas uma refeição com uma mesa que vai pra lá e pra cá. Mas no final, peçam cheesecake. E fatura com NIF.
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