CANTINHO DO AZIZ

Não foi a primeira vez que me desloquei ao Cantinho do Aziz, mas é como se assim fosse: as memórias de um jantar de aniversário da minha mãe, já bem distante, eram vagas. Ainda assim, conseguia associá-la a um feeling positivo, porque a vontade era de regressar há já algum tempo.

Enquanto subia a escadaria que guia até ao restaurante, recordava-me do quão rápido se passa do corropio do Martim Moniz para a calmaria da encosta do Castelo.

No momento da chegada, a indecisão era: ficar no interior ou na esplanada? Optámos pela segunda e, apesar de ser uma das primeiras noites do ano, os aquecedores de exterior e a hospitalidade moçambicana chegaram e sobraram para nos aquecer a alma.

Por ter tanto de óbvio como de delicioso, comecei com a Chamuça de Frango. Bem sabemos que o prémio de melhor ou mais picante Chamuça de Lisboa é muito disputado e longe de mim decretar vencedores e perdedores, mas uma coisa é certa: as do Cantinho do Aziz não se sairiam nada mal neste sufrágio.

Relativamente aos pratos pedidos, eles acabaram por ser mais semelhantes do que seria expectável, mas ambos do nosso agrado. Nota curiosa para a ementa do restaurante: cada opção é enaltecida através de prémios individuais ou de factos curiosos e subjectivos - para isso, basta observar as frases a vermelho no menu.

Os pratos pedidos foram acompanhados por uma Laurentina, a mais forte representante no que a cerveja diz respeito, em terras de Eusébio.

A partir de agora, todas as semelhanças são pura coincidência. Até porque não era nossa intenção dar "tudo" nas gambas.

O Caril de Camarão, pedido quase obrigatório na casa, é simples e cumpre. Aliás, se houvesse um trabalho de levantamento de dados para fins estatisticos, estamos certos de que a grande maioria dos pedidos incluí pelo menos um dos seguintes: Caril de Camaráo ou Caril de Caranguejo.

Apesar de semelhante, o Miamba Ma Macua consegue chegar um degrau acima. A banana pão e o molho de côco conferem-lhe uma suavidade e leveza dignas de uma iguaria consideravelmente exótica. Mas uma coisa é certa: o arroz de côco, aromático e espesso como eu gosto, aprova o recheio de ambos.

Como não poderia deixar de ser, para deixar um gostinho doce na boca, partilhámos uma sobremesa. Sem surpresa, a escolha foi óbvia: a Bebinka, a mais tradicional entre as disponiveis - até porque é a única cujo nome não é auto-explicativo, sendo identificado o seu conteúdo na ementa, que gira em torno dos ovos, farinha e côco. É consistente, mas não tão doce assim, pelo que foi uma aposta ganha.

Estamos, portanto, na presença de um digno representante deste bonito canto (qual canto qual quê? Moçambique é gigante) da lusofonia. Que partilha as suas virtudes com as do país de referência: simples, tranquilo e confortável - aquele conforto que aconchega, quer seja através da música, do sotaque ou da ginga: aquece de verdade.